segunda-feira, 30 de julho de 2012

Em Agosto: ler filosofia ou desporto?

Texto publicado no Público no dia  29 de Julho de 2012.

1. Há umas semanas recebi um telefonema de um primo meu que me dava conta do interesse em me fazer chegar um livro. O título: "Filosofia de jogo". Ups! "Cheirou-me" a futebol - tácticas ou coisa do género - e logo adverti o meu familiar que, se fosse "por aí", não teria muito espaço para o ler. Os dias passaram e chegou o livro.

2. Filosofia de jogo é um livro da autoria de Carlos Leone e que conta com um prefácio de Miguel Real. Resumo, em espécie de subtítulo: ou como ler o mundo moderno à luz da Filosofia, uma bola, 22 homens de calções e dois ou três pensadores de toga. E é, perdoe-se-me a expressão, uma delícia de leitura, ao jeito - cometerei alguma ofensa? - de um livro de Fernando Savater. Para mim, ignorante nesta andanças filosóficas, é muito mais uma lição de filosofia, apoiada no fenómeno desportivo, do que o inverso. Não é um livro de filosofia do desporto - de novo fala a minha incultura - mas sim um livro de filosofia explicada através da realidade desportiva, em particular do futebol.

3. Pelas páginas vagueiam José Mourinho, José Régio, Manuel José, Ortega Y Gasset, Ronaldo, José Gil, Zidane, Jorge de Sena, Platão, Cantona, Freud, Postiga, Piaget, Goethe, Polga, Ésquilo, Dali e Camus. Que equipa.

4. "Quando vou para a conferência de imprensa antes do jogo, na minha cabeça o jogo já começou." Com esta epígrafe de José Mourinho, o autor dá o pontapé de saída. Há sempre uma citação do treinador português a abrir os capítulos ("Por favor, não me chamem arrogante, mas sou campeão europeu e acho que sou especial", "Não há pressão no topo, a pressão é ser segundo ou terceiro"). E, afirma o autor, sempre a partir do mote da citação de Mourinho: o tempo passa e só não passamos juntamente com ele se tivermos uma filosofia de jogo, uma filosofia de vida. Ou melhor, mesmo com ela o tempo leva-nos consigo. Por isso, convém não esquecer a lição do princípio: estamos em jogo ainda antes de o jogo começar.

5. Agora, até Setembro.





terça-feira, 24 de julho de 2012

Manual da cegueira

A foto que encima este texto foi inicialmente obtida numa das etapas mais simbólicas da Volta à França. Ultrapassou fronteiras e percorreu mundo. Um mundo que provavelmente não sabe, nem nunca saberá, que o Relvas do cartaz é o ministro português que tutela o desporto. E ignorará, mesmo com tradução, porque o mandam ir estudar. Mas os portugueses sabem. E nisso reside a verdadeira dimensão daquela manifestação. Desvalorizá-la, como uma coisa menor ou um fait-divers, só o fará quem não anda nas ruas e não escuta os comentários. Ou as anedotas. Aguardar que uma qualquer nova ocorrência ganhe a agenda mediática e o caso seja esquecido é uma das tarefas dos estrategas de comunicação do governo. Mas é uma ilusão. A situação está metastizada e mais cedo ou mais tarde os seus efeitos deletérios virão ao de cima. Por muito que alguns fechem os olhos e tapem os ouvidos. Ou acreditem em milagres. Outros, mais terra a terra, apontam o caminho: sair.O problema é outro.
A questão poderia esgotar-se aqui. Mas não. Porque o caso, um exemplo de desvario e tontearia de uma universidade privada, é afinal uma sucessão de casos. E é esse facto que o exclui do rol dos não-assuntos. Colado à pele do ministro não vai desaparecer por mais exercícios de dissimulação que se apliquem. 
Os cargos políticos revestem-se de uma importância especial. Implicam o exercício de funções públicas. O que conduzem a um permanente escrutínio da ditadura mediática. Independentemente da legitimidade do mandato que possam ter recebido para o exercício dessas funções. Esse escrutínio é maior precisamente porque quem governa o faz em nome de todos, que é a fonte legítima da soberania. O que dá como consequência que ao titular de um cargo público são pedidas responsabilidades distintas das de um cargo privado.Se isto é uma verdade elementar da democracia, assume uma particular e acrescida relevância em tempos de crise e de dificuldades. Em boa verdade o governo, este ou qualquer outro, tem a obrigação de prestar contas das pessoas que escolhe, do que fazem e como o fazem. E em simultâneo mobilizar e concitar os cidadãos para as tarefas de vencer essas dificuldades. O que só é possível num espírito agregador em que tem de pontuar algo indispensável : o bom exemplo dos governantes. Ora isto está a falhar por manifesto erro na escolha das pessoas. Umas por ausência de competências mínimas para o exercício de cargos públicos. Outras por percursos pessoais pouco compatíveis com esses cargos. Há exagero nesta afirmação? Recuemos um ano atrás e recordemos o que, então, muitas figuras importantes do principal partido que suporta o governo, o PSD, disseram ou escreveram. Não sabiam do que falavam?
A tutela do desporto entregue a um ministro que está profundamente fragilizado pelo conjunto de incidentes em que se vê envolvido não beneficia o desporto. E o desgaste a que o seu titular está sujeito, com razão ou sem ela, atinge toda a governação. Essa vulnerabilidade pode até ser desvalorizada pelo in circle que lhe é próximo. Pela natureza das coisas está mais preparado para um magistério de opacidade, como é próprio de quem gravita nas lógicas da partidarite e às tantas se vê na posse de um poder que jamais alcançaria em condições normais de uma vida não pública. E o medo de perder esse poder (e o que lhe está associado) empurra para estratégias de sobrevivência. Mas só quem agora chegou à política e não compreende certo tipo de sintomas é que pode admitir que esta estória vai ter um final feliz. É apenas uma questão de tempo.
Se as questões pessoais (e de caráter) dos titulares de cargos públicos não são despiciendas, as políticas e os programas podem desvalorizá-las ou acentuá-las. Mas aí a equipa governativa do desporto não trouxe, até à presente data, qualquer fator de inovação ou de diferenciação políticas. E um ano passado sobre o início da governação é patente que está ainda à procura de um rumo que dê consistência às políticas públicas.Com uma administração pública, em lógica de funcionamento centrípeto, desorientada e pouco motivada, a tarefa torna-se ainda mais complexa. E uma certa futebolização da agenda da governação não foi um bom princípio. O tempo passa e o governo vai perdendo oportunidades.
É certo que todas as políticas públicas estão sobre a tenaz do programa de ajustamento negociado com as entidades internacionais. É também certo que os mecanismos de controlo da despesa que imperam sobre a administração pública dificultam a ação. Mas a solução não está em colecionar iniciativas ou eventos ou falar de tudo e mais alguma coisa para dar a sensação que se está mexer e a trabalhar. O problema não está na vontade de fazer coisas, o que é louvável, mas em fazer coisas que acrescentem valor à situação desportiva nacional, que é o necessário. Governar ainda é bem diferente de animar os finais de tarde ao estilo do Martinho da Arcada ou do Grémio Literário com tertúlias ou encontros temáticos.
O anterior governo, apesar de tudo, com um outro fôlego, uma doutrina e uma liderança mais consistentes, viveu durante muito tempo da movida do Congresso do Desporto e de uma conjuntura financeira bem mais favorável.Com os resultados que são conhecidos. Este parece optar por um registo mais soft, mas não menos prometedor: o regresso ao admirável mundo de um desporto sem problemas, e sem conflitos,salvo os que foram deixados pelos antecessores! Está enganado e quanto mais cedo o perceber ,melhor.

domingo, 22 de julho de 2012

Para acabar de vez com a Educação Física e o Desporto Escolar?

Texto publicado no Público de 22 de Julho de 2012.

1. Tantas e tantas vezes, nas aulas de Direito do Desporto, direccionadas para alunos das escolas superiores de Desporto, refiro os direitos que a Constituição da República Portuguesa consagra no âmbito desportivo e mesmo no da educação física.

Há como que um trio de ataque ou, visto pelo rugby, um talonador e dois pilares.

O artigo 79º estabelece o direito de todos ao desporto e adianta que incumbe ao Estado, designadamente em colaboração com as escolas, promover, estimular, orientar e apoiar a prática e a difusão do desporto.

Segue-se o artigo 64º, onde se consigna que o direito à protecção da saúde também se realiza pela promoção da cultura física e desportiva, escolar e popular.

E, por fim – o que aqui é uma manifesta simplicidade –, o artigo 70º, relativo aos jovens, especifica que eles gozam de protecção especial para efectivação dos seus direitos na educação física e no desporto.

2. Se bem atentarmos, nestas três normas da lei fundamental deste infeliz País, há algumas constantes: deveres a cumprir pelo Estado, o valor da escola, os direitos dos jovens e a importância da educação física e do desporto.

Visto isto, e muito mais que este espaço não pode albergar, o Governo faz tábua rasa deste património com as medidas que entendeu estabelecer para o próximo ano lectivo. As palavras para «encher» o programa do Governo na área do desporto cumpriram essa missão de propaganda e, como é norma, por aí se quedaram inertes.

Reduzir carga horária e tudo o mais que tenha a ver com a educação física e o desporto escolar, é a política do Governo em total contramão com documentos e estudos, nacionais, europeus e internacionais.

3. São inúmeras as declarações de protesto e revolta que se recolhem sobre esta postura negacionista do valor do desporto na escola. Entre tantas outras manifestações de desagrado pelas medidas do Governo, registem-se a carta (aberta) ao Ministro da Educação subscrita por 26 professores catedráticos, uma petição em defesa da Educação Física e mesmo a realização de um Congresso Extraordinário (Não há Educação sem Educação Física), organizado pelo Conselho Nacional das Associações de Professores e Profissionais de Educação Física e pela Sociedade Portuguesa de Educação Física.

4. Sabe-se bem como a força jurídica dos direitos económicos, sociais e culturais, onde se inserem as normas de que demos conta, é diminuída quando em confronto com o regime próprio dos direitos, liberdades e garantias.

Porém, um dos possíveis efeitos apresenta-se formalmente como algo que assusta qualquer pessoa: o princípio da proibição do retrocesso social.

Em que consiste?

Basicamente em a Constituição não permitir que, quanto a um concreto direito, uma vez alcançado um patamar da sua realização, o Estado possa reduzi-lo.

Sujeito a elevado debate teórico, o princípio não tem recebido os favores do Tribunal Constitucional.

Mas não é por isso que se deve abandonar essa bandeira normativa. Os outros tribunais, pelo menos num primeiro momento, podem ter uma palavra a dizer sobre a ilegalidade e inconstitucionalidade dos despachos que traduzem essa diminuição do valor físico e desportivo quanto aos jovens em idade escolar. E, a final, quem garante, que o Tribunal Constitucional não altere a sua posição?

terça-feira, 17 de julho de 2012

Em tempo de férias

Em todas as gerações existe uma cultura de nostalgia. Que conduz, muitas vezes, a uma espécie de lamentação do tempo presente. E à invocação de que antigamente as coisas não eram assim. Querendo com isso dizer que eram melhor. O que, é mais um estado de alma que uma verdade que possa ser sustentada em factos.
A minha geração vive, por norma, uma melhor situação económica que a dos seus pais. E tendo vivido em dois regimes políticos diferentes ditadura/democracia é óbvio que os ganhos de qualidade de vida e de cidadania são hoje muito maiores. O risco de que esse progresso possa estar a perder-se coloca em causa não apenas os ganhos atingidos, mas uma das crenças políticas que mais nos marcaram e que tem a ver com a prognose de que a história caminharia inexoravelmente no sentido do progresso e que este seria ininterrupto.
Este esquema mental e vivencial, prisioneiro de uma conceção otimista da natureza humana e de um sentido finalista da história que, no limite, anunciaria a possibilidade da construção de uma sociedade perfeita, foi posto em causa pelo insucesso histórico das conceções construtivistas e de criação do homem novo das sociedades comunistas e pelo fundamentalismo religioso. E está hoje abalado pelo capitalismo de casino através da captura da política por parte do capital financeiro.
Abandonada essa crença, e sem que o lugar seja ocupado por uma dimensão pessimista, resta-nos perceber que a natureza humana e a organização das sociedades concretas é bem mais complexa que aquilo que imaginávamos e que há hoje questões que nos interrogam e para as quais não temos respostas seguras. E o desporto cuja evolução desde finais do seculo XIX tem sido constante não está fora deste raciocínio. Aumentam os fatores de desregulação e as soluções apresentadas estão longe de trazer respostas sustentáveis.
Escolhendo, por exemplo, a formação desportiva dos jovens não temos quaisquer dúvidas que, atualmente, o conhecimento disponível é maior e o modo como se trabalha bem melhor. Subsiste no entanto um divórcio entre o que deveria ser essa formação (no plano das aquisições técnicas e de competências específicas) e o que é. E se multiplicarmos essa avaliação pela educação física escolar, pelos quadros competitivos dos jovens em prática federada, para transição/mobilidade para os escalões superiores, pelo abandono desportivo precoce concluiremos que anos de pregação sobre a matéria jazem nos textos sem qualquer relevância para a situação real. Certamente que há mais jovens a praticar desporto, o que é positivo. Que a qualificação dos técnicos é maior. Que as condições de trabalho evoluíram. Mas muito dessa prática enferma de conceções que sempre se procuraram corrigir/alterar o que não tem sido possível. Para quem entende que o desporto não é apenas um modo de dispêndio energético e de avaliação de rendimento em contexto de competição não pode deixar de se inquietar com tal situação. Uma situação que num contexto de degradação das condições de vida tende a agravar-se.
De há muito a esta parte que defendemos que muitas das respostas aos problemas do desporto não estão na sua dimensão financeira, mas na sua perspetiva cultural. E embora este entendimento esteja permanente em toda a história do desporto moderno é em momentos de maiores dificuldades que a sua importância se torna relevante.
À porta de mais uns Jogos Olímpicos, que a respetiva carta olímpica estipula ser uma competição entre atletas de todo mundo, e que a realpolitik transformou numa competição entre Estados, reler o que sobre esta matéria e a da formação desportiva dos jovens a doutrina oficial do Olimpismo tem escrito é comprovar que o mais difícil nunca esteve na construção da doutrina, mas na sua aplicação.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Já não se "emprestam" jogadores

Artigo publicado no Público de 14 de Julho de 2012.

1. Na assembleia geral da Liga Portuguesa de Futebol Profissional de 28 de Junho veio a ser alterado o artigo 52.º do Regulamento de Competições – sobre a cedência de utilização temporária –, dispondo o seu n.º 2 que é “proibida a cedência temporária (de jogador) entre clubes da mesma divisão, sempre que a mesma seja fundada numa cedência de utilização entre clubes do mesmo escalão.” Daqui se retira uma norma proibitiva que tem sido contestada por alguns. Neste espaço não nos ocuparemos do mérito da solução, indo apenas abordar um dos aspectos jurídicos que a mesma levanta.


2. Foi noticiado durante a semana que o Benfica interpôs recurso desta deliberação para o Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), desconhecendo-se os seus fundamentos.

 
3. Se o leitor bem atentar, estamos a falar de uma impugnação de uma deliberação de uma assembleia geral de associação de direito privado, embora exercendo poderes públicos, como é a LPFP. Ora, a impugnação de uma deliberação de uma assembleia geral de uma pessoa colectiva tem o seu acolhimento natural nos tribunais, sem questionar, neste momento, a ordem dos mesmos (judicial ou administrativa).

 
4. O que ocorre na FPF? Algo de bem diferente. Assim, nos termos do artigo 63.º, n.º 1, dos seus Estatutos, ao Conselho de Justiça compete conhecer e julgar os recursos das decisões da LPFP. Poder-se-ia ser tentado a afirmar que ficavam de fora as deliberações – provindas de órgãos colegiais –, mas o preceito em causa utiliza como sinónimos, em outros números, os dois termos (decisões e deliberações). Afastando dúvidas, o Regimento do Conselho de Justiça vem estabelecer a competência desse órgão para conhecer e julgar os recursos interpostos dos actos e deliberações dos órgãos da LPFP e de qualquer dos seus membros [artigo 10.º, alínea d)].


5. Ora, esta arquitectura normativa suscita-nos alguns embaraços de compreensão. O que temos, na raiz das coisas, é um órgão de uma pessoa colectiva a conhecer e julgar uma deliberação de uma assembleia geral de distinta pessoa colectiva. Problematize-se a questão com um exemplo. Na hipótese da deliberação da assembleia geral da LPFP ter por objecto – o que não é agora o caso – uma questão estritamente privada (por exemplo, bem ou mal, os tribunais sempre entenderam que a definição do montante das contrapartidas mensais dos associados da LPFP, constitui matéria privada), ficando “encerradas” as portas dos tribunais, pelas normas federativas, para onde se recorre do acórdão do Conselho de Justiça? Dá que pensar.

 
6. Não se confundam, todavia, duas questões. Se é verdade que a competência da LPFP para aprovar o regulamento de competições é exclusiva – ou quase, tendo em conta, desde logo, as matérias que são objecto de contrato com a federação –, daí não deriva, naturalmente, a inimpugnabilidade do exercício dessa competência. A questão radica, somente, no caminho certo a seguir

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Anacronismo escolar

Havia-se dado nota anteriormente neste espaço das recentes alterações sobre a organização da educação física e do desporto escolar para o ano lectivo 2012/2013. 

Neste propósito, foi ontem publicado ao final do dia em suplemento da segunda série do jornal oficial – hábito que tem vindo a ser recorrente em particular quando se abordam temas controversos - o despacho que determina o número de créditos e tempos letivos a atribuir para o Programa de Desporto Escolar onde na “…perspetiva de conferir maior autonomia às escolas, a capacidade de gestão dos recursos humanos, a progressão dos resultados escolares e o número de turmas, importa então assegurar as condições e regras de execução do programa de desporto escolar 2009 -2013.

 Vejamos, em suma, no texto do despacho, como se pretende alcançar tal desígnio:

 Começando na maior autonomia das escolas

 11 — O calendário de operacionalização da revalidação dos projetos já aprovados pelo programa de desporto escolar para 2009 -2013 obedece às seguintes formalidades:
 a) As direções regionais de educação comunicam aos agrupamentos de escolas e escolas não agrupadas o resultado da aplicação do presente despacho aos projetos em vigor, no prazo de oito dias após a sua publicação, discriminando os créditos horários autorizados para cada grupo/equipa; 
 b) Os agrupamentos de escolas ou escolas não agrupadas comunicam às direções regionais de educação a sua tomada de conhecimento e aceitação ou eventual pedido de reapreciação dos créditos horários atribuídos, no prazo de 10 dias 
 3 — … os projetos aprovados, no âmbito do programa de desporto escolar para 2009 -2013, só têm continuidade mediante a aceitação pelo diretor do agrupamento ou escola não agrupada das condições previstas no presente despacho … 

 Passando pela capacidade de gestão dos recursos humanos

 1 — Para as modalidades, no âmbito do desporto escolar, com atividade externa é disponibilizado um crédito horário máximo de 21 600 tempos letivos. 

 Os tempos letivos são distribuídos pelos agrupamentos de escolas e escolas não agrupadas, através da consideração dos projetos de desporto escolar...

Para o efeito divide-se aquele total de crédito horário pelas cinco direções regionais de educação do país 

 …A progressão dos resultados escolares e o número de turmas

 4 — Para o ano letivo 2012 -2013 não é aceite proposta de adesão de novos grupos/equipa ou a substituição dos existentes, salvaguardando –se o eventual ajustamento cronológico de escalão etário. 
15 — Da aplicação conjugada do presente despacho com o despacho normativo n.º 13 -A/2012, de 5 de junho, não resulta autorização para a afetação às atividades de desporto escolar de um crédito total de tempos da componente letiva superior ao utilizado em 2011 -2012 por cada agrupamento de escolas ou escolas não agrupadas. 

 Importa então assegurar as condições e regras de execução do programa de desporto escolar 2009 -2013. 

No esforço de tentar conhecer tais regras, e uma vez que “em tudo o que não lhe for contrário e não estiver previsto no presente despacho aplica -se, subsidiariamente, o disposto no programa de desporto escolar para 2009 -2013” quis o acaso que tenha caído na página 30 e ss. daquele documento, produzido em Junho de 2009, no titulo “Legislação”, a qual agora se reproduz: 



 Num esforço adicional procurei no sítio do Ministério da Educação informação actualizada sobre o “conjunto de diplomas legais, mais relevantes e directa ou indirectamente relacionados com a actividade da Educação Fisica e do Desporto Escolar” e deparei-me com a seguinte página de legislação de desporto escolar

Exangue percebi então, no que respeita ao quadro jurídico relacionado com o desporto, não se tratar de um lapso, mas termos, de facto e de direito,  parado efectivamente nos anos 90. 

E assim fez-se luz ! Afinal, se as regras de execução daquele programa quadrienal 2009-2013 definidas no despacho ontem publicado não remontam ao período do reforço da autonomia das escolas, mas ao tempo presente no Ministério da Educação no que concerne ao desporto escolar, onde ainda vigora a Lei de Bases do Sistema Desportivo, de 13 de Janeiro de 1990, e todo o quadro normativo daí emanado, talvez o mesmo se passe porventura no que respeita às condições de execução do referido programa, o qual não consegui ler para além da página 30.

Assim sendo estamos conversados!

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Expetativas Olímpicas de Portugal em Londres 2012

Um texto de Luís Leite que se agradece.


A pouco mais de 15 dias do início dos Jogos Olímpicos, já é possível fazer algumas previsões tão realistas quanto possível, dada a eventualidade, sempre provável, de surpresas positivas e negativas.

Este exercício tem sobretudo por objetivo apresentar às pessoas que se interessam verdadeiramente por Desporto algo que ninguém tem coragem de fazer utilizando processos de análise racionais, baseados fundamentalmente nos rankings mundiais em cada modalidade e nas classificações obtidas internacionalmente nos últimos doze meses, dando maior importância àquelas obtidas nos últimos 4 meses.

 
É fundamental começar por chamar a atenção para que o simples facto de um desportista conseguir estar presente nos Jogos Olímpicos por ter cumprido os respetivos mínimos, é merecedor de grande respeito e consideração desportiva e pessoal. Aqui não há favores. Há mérito e há anos de luta, abnegação, muito trabalho e persistência com o objetivo de conseguir estar lá, entre os melhores dos melhores. Não só dos desportistas, mas também dos seus treinadores e de equipas de apoio diversificado mas fundamental, sem as quais nada seria possível. E que merecem não ser menosprezadas, antes dignificadas e valorizadas.

 
A História do Olimpismo português, numa avaliação apenas global, não é brilhante nem sequer razoável. É fraca, ou mesmo muito fraca.

É um problema cultural e complexo.

 
Em 22 participações, Portugal conseguiu unicamente 22 medalhas, o que dá a média de uma medalha por edição de Jogos de Verão.

Se tomarmos em consideração apenas os países europeus com população idêntica à nossa ou até metade da nossa, somos o último, ou seja, o mais fraco, em todos os indicadores de resultados olímpicos, a distância considerável dos que nos antecedem, com exceção da Irlanda, um país com menos de metade da nossa população, que tem uma média de 1,2 medalhas por edição.

 
A análise cuidada de uma grande quantidade de dados estatísticos relativos aos países europeus com uma população entre os 8 e os 12 milhões de habitantes, o número médio de medalhas por participação varia entre as 3,4 da Áustria e as 19,1 da Hungria, passando pelas 19 da Suécia, 16 da Bielorrússia, 8,3 da República Checa, 5,8 da Bélgica e 4,2 da Grécia.

Em relação aos resultados obtidos em Pequim só a Bélgica conseguiu como nós apenas 2 medalhas, a Áustria 3, e a Grécia e a Finlândia ambas 4, todos abaixo ou muito abaixo da respetiva média por edição.

 
O intervalo de medalhas conquistadas por Portugal nas suas participações varia entre ZERO e TRÊS medalhas, sendo que as 3 medalhas apenas foram conseguidas em Los Angeles 1984 e Atenas 2004.

 
Olhando para os resultados de Pequim 2008, evento no qual participei com responsabilidades, Portugal conseguiu 2 medalhas (uma de ouro e uma de prata), 7 diplomas de finalista (classificações até ao 8º lugar) e 15 classificações até ao 16º lugar (semi-finalista), num total de 79 participações.

 
Para Londres 2012, as aspirações nacionais a medalhas ou classificações honrosas são, como habitualmente, muito modestas, tendo como padrão comparativo os países europeus com população semelhante.

 
Assim, são de esperar, na minha opinião, 0 a 1 medalha, 4 a 6 diplomas de finalista e mais 10 a 14 classificações até ao 16º lugar.

Tudo quanto seja acima disto será para mim surpreendente, tendo em atenção a realidade atual.

 
Devemos pois honrar e valorizar especialmente todos os olímpicos portugueses que consigam medalhas ou diplomas de finalista, já que tais conquistas são extremamente difíceis para desportistas portugueses.

terça-feira, 10 de julho de 2012

A síndrome do aeroporto

O aeroporto passou a ter um novo valor. Um valor simbólico. Mas não menos importante do aquele para que sempre serviu: local de partida e chegada de aviões. Agora permite atestar quem dá valor aos feitos desportivos nacionais. O governante que lá se desloque para receber os nossos heróis passa no exame. Quem o não faz, reprova. Eis ao que chegámos!
Um feito desportivo internacional deve ser objeto de reconhecimento. Como qualquer outro feito: artístico, literário, musical, empresarial, cinematográfico. É normal que a comunicação social o refira. É normal que as entidades públicas e governamentais o valorizem. E qua as pessoas exultem com o facto. A literatura, a arquitetura, o cinema, as artes plásticas e o desporto têm alcançado feitos de reconhecido mérito internacional. Mas ninguém está à espera que um membro do governo aguarde no aeroporto a chegada de Siza Vieira, Souto Moura, Joana de Vasconcelos, Manuel de Oliveira ou Gonçalo M. Tavares. Por que o deve fazer em relação ao desporto? A resposta é simples: pela visibilidade mediática que essa presença permite alcançar. Não é pelo desporto. Não é pelas pessoas em concreto. É pensando naquelas que não estando lá ficam a saber que o governante lá esteve. Uma presença para ser lida como a de um dos nossos, alguém que dá atenção, que se interessa, que cultiva uma relação de proximidade com o desporto e os seus problemas. Mas é puro engano. O que se procura não é quem chega. É quem cá está. E chama-se comunicação social. Com um objetivo claro: propaganda. Um forma de fazer política por outros meios!
O normal seria que os familiares e os amigos mais chegados, dirigentes e um ou outro adepto, esperassem os atletas e as delegações à chegada ao aeroporto e aí os cumprimentassem e saudassem. Até há relativamente pouco tempo os governantes enviavam saudações aos atletas e respetivas federações. E, em alguns casos, recebiam formalmente nas respetivas instituições os competidores, elementos técnicos e dirigentes. E, em ambiente formal, valorizavam e agradeciam, em nome das entidades públicas, os resultados alcançados.Com a dignidade e frugalidade que o Estado deve colocar nos seus atos públicos. Não havia ainda o hábito de os próprios governantes se deslocarem ao local da chegada, normalmente o aeroporto e, aí, exprimirem o que lhes vai na alma e em outros sítios da geografia do corpo. O que mudou radicalmente as coisas: passou a ser exceção a não comparência. E todos passam a requerer a presença de um qualquer governante sempre que desembarcam no aeroporto. Incluindo uma equipa de arbitragem. Do futebol claro, porque ninguém está à espera que um juiz nacional de um torneio de ténis, ou de um campeonato do mundo de ginástica ou de atletismo caia no ridículo de criticar tal ausência. Já sei que o futebol é o futebol, mas quem governa o desporto, governa todas as modalidades. E o patético de tudo isto é que um membro do governo, que fala em nome do Estado, se sente na necessidade de justificar perante os jornalistas o facto de não ter ido ao aeroporto esperar Pedro Proença.
O espetáculo desportivo contaminou todos. E não prescinde da sua rave. E o aeroporto da sua sunset party desportiva. Muita festa e muito glamour. Exaltação da pátria. Emoção e sentido de dever cumprido. E com isto o espetáculo tomou o lugar da moral. E em que tudo, incluindo o reconhecimento ao mérito desportivo, tem de obedecer a uma lógica de teatralização como epopeia dos feitos desportivos. A situação atingiu tal patamar que já houve casos, recentes, em que mesmo na ausência de qualquer feito desportivo especial, apenas uma banal participação desportiva igual a tantas outras, justifica a presença do titular de cargo público.
O que aqui está em causa não é obviamente o reconhecimento ao mérito por parte de entidades governamentais. É a sua subordinação a uma lógica populista e de pirosice em que se sacrifica a dignidade das funções públicas do Estado a uma arte de representação para consumo público.Com a governação transformada numa paródia,que até justifica a presença num sorteio do futebol,equivalente a uma peça da indústria do divertimento e da banalização.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Novo livro



Um livro da autoria de Gustavo Pires

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Site bilingue?

Pessoa amiga chamou-me atenção para o site do IPDJ.E dizia o seguinte:… De site, não tem nada. É apenas uma página inicial que depois remete para os antigos sites do IDP e do IPJ.A página inicial - a demonstrar bem as dificuldades em fundir o desporto e a juventude - tem dois tipos de construção gramatical: um conjunto de frases em que o leitor é tratado por "tu" (área da juventude); e um conjunto de frases em que o leitor é tratado na 3ª pessoa do singular. Quase se fica com a sensação de que o desporto é para "mais velhos", mais adultos, mais formais. E que à juventude fica reservado o "privilégio" da informalidade, da descontração, do tu cá tu lá. O que é mais interessante é que isto não foi pensado assim e representa apenas duas culturas e duas formas de estar na vida que o IPDJ não consegue fundir. Pergunto eu: significa que é uma operação votada ao fracasso? Não necessariamente. Revela apenas as dificuldades existentes.
Os processos de reorganização/fusão não têm destinos comuns. Uns traduzem-se em ganhos de eficiência e de diminuição de custos. Outros começaram por ter uma redução de custos e passado pouco tempo as despesas de funcionamento cresceram para valores superiores à situação anterior à reorganização. Os próprios custos de funcionamento não podem ser desligados do valor produzido pelos serviços que são prestados. E uma avaliação estritamente financeira não se faz comparando intenções ou orçamentos, mas relatórios de atividades e contas. Vale isto por dizer que uma avaliação criteriosa carece de tempo. Só ele permitirá verificar se a solução encontrada foi positiva ou negativa no plano financeiro.
Esse tempo é também indispensável para avaliar se é possível ou não, anular as tensões e as idiossincrasias resultantes de fundir entidades distintas. A fragilidade e a volatilidade de uma certa cultura de missão muito centrada nos procedimentos administrativos e no dogmatismo contabilístico como alfa e ómega da boa administração pública são o verdadeiro muro de Berlim a um projeto voltado para servir o desporto e a juventude. O que verdadeiramente importa saber é se as politicas para o desporto e para juventude desporto ganham com a solução adotada. E para responder a essa questão só o tempo será o tribunal da razão. Porque, até lá, o princípio é doloroso.
A fusão de organismos com culturas e missões distintas coloca sempre problemas de construção da nova identidade. Os organismos fundem-se mas as pessoas e as suas vivências não terminam com o encerramento dos organismos. Migram para a nova realidade. Onde procuram a sobrevivência com o que as configurou no passado. Por isso, escrevemos na altura, a fusão como ato administrativo é relativamente fácil. Difícil é harmonizar o que sempre viveu separado. Muito difícil é a convivência entre lógicas de produto (desporto/juventude) com modos de produção distintos, públicos e organizações diferentes. E com um histórico por detrás. Essas dificuldades não estão para além dos seus atores e protagonistas. A opção por quadros com experiências profissionais alheias à lógica das organizações fundidas e com um histórico de migração clientelar na administração pública não é, à partida, um elemento que favoreça essa integração. Pelo contrário, a tendência é para acentuar um tropismo organizacional em redor de um poder centralizado. E como muito do setor público perdeu completamente a noção de qual é a sua missão e para que serve, uma parte dele anda às aranhas limitando-se a cumprir orientações superiores, que em alguns casos, são apenas as orientações de quem conjunturalmente controla uma parte do aparelho administrativo do Estado. O resultado não pode ser brilhante.





domingo, 1 de julho de 2012

Cristiano Ronaldo porta-estandarte em Londres

Texto publicado no Público no dia 1 de Julho de 2012.

1. Tenho plena consciência - gosto deste início - que compete a V. Ex.ª, Senhor Chefe de Missão aos Jogos Olímpicos de Londres de 2012, a escolha do atleta que terá a honra de ser o porta-estandarte nos Jogos Olímpicos. Não interprete mal, pois, este meu escrito. Todavia - há sempre um todavia, mas, porém, ou outro sinónimo "word" -, tendo estado recentemente em terras da Polónia e da Ucrânia, um dos temas que se revelou incontornável (também adoro esta) foi a participação de Cristiano Ronaldo no Euro 2012.
Foi-me, ainda enfatizado o conjunto de qualidades do atleta e o que significaria para Portugal, mas também para a Polónia, Ucrânia, a Europa e o Mundo, e para a conquista da Bola de Ouro, que essa honra coubesse a esse atleta. Não veja nesta minha iniciativa, repito e espero que acredite na minha absoluta sinceridade, uma qualquer forma, mais ou menos indireta, de influenciar a sua decisão. Trata-se, tão-só, de lhe fazer chegar o querer de outros e partilhar com V. Ex.ª o testemunho que me foi transmitido.

 
2. Tinha acabado de endereçar este meu pedido - ups! - quando tomei conhecimento no jornal "O Jogo" que, no passado dia 13 de Junho, alguém se tinha adiantado.

Na verdade, o Governo (?) deste infeliz país, na pessoa do secretário de Estado Mestre Picanço, enviou uma missiva ao Chefe de Missão aos Jogos Olímpicos - e presidente da Federação Portuguesa de Canoagem - transmitindo todo o sentir da Região Autónoma da Madeira no sentido de um seu atleta ser o porta-estandarte.
Tendo tido a oportunidade e o privilégio de se deslocar àquela região autónoma, veio de lá "carregado" de boa vontade em transmitir o desejo - também em nome de "uma excelente oportunidade para a promoção desportiva e turística" da região autónoma - de todo um conjunto de entidades e personalidades, em ver o seu atleta como porta-estandarte.

 
3. E escreveu: "Estou bem ciente de que a escolha do "porta-estandarte" é uma competência exclusiva, pessoal, de V. Ex.ª, ademais, como é público, de há muito que sou um convicto defensor da autonomia do movimento associativo. Nesse sentido, não vou, naturalmente, procurar interferir na referida escolha. Em todo o caso, não quis deixar de, por esta via, partilhar com V. Ex.ª o testemunho que me foi transmitido".

 
4. Desta carta foi dado conhecimento ao Senhor Presidente do Governo Regional da Mdeira, Dr. Alberto João Jardim.

 
5. Acho que o meu pedido não tem hipóteses.

 
6. Palavras para quê? É um governante (?) português